Por FERNANDA MAYER
A História costuma ser uma rica fonte de inspiração para a moda. Muitas coleções reinventaram roupas e cortes do passado, restaurando estilos, recuperando tradições. Hoje, vemos a moda se debruçar sobre sua própria história, recriando tendências de um passado bem recente.
Na última São Paulo Fashion Week, Alexandre Herchcovitch trouxe referências dos anos 50 na sua coleção com cara de "Bonequinha de Luxo" e a Cavalera, a Londres dos anos 60.
Já a Triton, André Lima e Ricardo Almeida, no Brasil, e Dolce & Gabanna e Gucci, na Itália, fizeram interessantes releituras dos anos 80 em algumas de suas mais recentes coleções.
Claro, recordar é viver, e nós, que ainda nem tínhamos nascido em 1950 e éramos ainda bebês ou simples criancinhas nos 60, resolvemos mergulhar de cabeça na década de 80, quando já podíamos nos considerar participantes desta história.
Passados já 20 anos da "new wave", do surgimento dos yuppies (young urban professionals), da geração saúde e da febre da ginástica aeróbica, devemos agora fazer uma ressalva: nem tudo nos anos 80 foi um mar de rosas, por isso, vamos procurar submeter nossas lembranças ao filtro da memória, trazendo de volta apenas o que ainda parecer significativo aos nossos dias.
Para os economistas, os anos 80 no Brasil são considerados a "década perdida". Paradoxalmente, as roupas procuraram expressar justamente o contrário: alegre, esportiva, versátil, divertida e ao mesmo tempo, sofisticada, sensual e ousada, reflexo, talvez, da abertura democrática.
A ambiguidade foi um traço marcante desta moda: estampas de oncinha, cores cítricas, ombros largos, pernas longas, cortes de cabelo assimétricos e acessórios "fake" conviviam com discretos tailleurs e com roupas de moletom e cotton-lycra recém-saídas das academias.
O surgimento de novos tecidos, como o stretch, dava um ar futurista às roupas, mas, ao mesmo tempo, muitas de nós voltaram ao armário da vovó, promovendo a onda dos brechós.
Tudo é experimentação, inovação e transformação. Até na alta-costura, em que se destacaram Christian Lacroix, Karl Lagerfeld e Jean Paul Gaultier, com suas criações arrojadas, tudo era meio barroco, exuberante e dramático.
O outro lado da moeda foram os estilistas japoneses - Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo - com roupas de uma simplicidade lírica e desconcertante perto de tanto exagero.
Já o estilista italiano Giorgio Armani, que em 1981 lançou a sua grife Emporio Armani, garantiu com seus cortes sóbrios e impecáveis a elegância de homens e mulheres de negócios nos anos vindouros.
No universo musical, uma infinidade de bandas surgiram na década, com as mais diversas tendências: new romantics, darks, góticos, metaleiros e rastafaris. Ao contrário das passarelas, o tom da música pop era mais melancólico, representado por bandas como Joy Division, Echo and The Bunnyman, The Smiths e The Cure, entre outras.
A música, assim como o cinema, foi um importante meio para a difusão das modas, especialmente pela transmissão dos videoclipes, unindo o som à imagem. Filmes como "Blade Runner" (1982) reafirmaram e divulgaram algumas das tendências mais fortes da moda, servindo também de trampolim para astros da música, como Madonna em "Procura-se Susan Desesperadamente" (1985).
A afirmação da idéia da imagem como meio de comunicação se cristalizou nos 80, quando o corpo se tornou uma vitrine de tudo o que viesse à própria cabeça. A partir de então, quando alguém nos perguntava a respeito de moda, o que começamos a responder foi: "sou eu que faço a minha moda".
Este conceito está presente até hoje, na costumização-mania, na mistura de estilos e até na própria negação da moda enquanto norma, presente em movimentos como o "grunge", no início dos anos 90.
A releitura de antigos clichês, a exploração das ambiguidades, a reflexão sobre conceitos como bom gosto e mau gosto, assim como a mistura de tendências a partir dos anos 80, provaram que todos os limites são relativos e que a moda não é mais que a projeção de nossos sonhos, idéias e aspirações, e que, afinal, tudo é mesmo possível no mundo da criação.
Não resistimos e fizemos uma lista de algumas coisas ótimas e outras nem tanto que são a cara dos 80. Esperamos que os que viveram a "década perdida" e também os que nunca compraram um vinil na vida se divirtam conosco. Boas recordações!!!
QUEM NÃO SE LEMBRA?
-Calça baggy e semi-baggy
-Sandália de plástico (Melissinhas em geral)
-Ombreiras (tinha até sutiã de ombreira)
-Manga morcego
-Saia balonê
-Legging
-Batom 24 horas (não saía da boca nem com sabão)
-Scarpin
-Cores ácidas
-Mochilas e carteiras emborrachadas
-Tule no cabelo
-Faixas na testa
-Gola canoa
-Gel "New Wave"
-Polainas
-Walkman Sony amarelo
-Atari
-Pastilhas Supra-Sumo
-Balas Soft
-Cubo Mágico
-Mobilete
-Lolo (atual Milkybar)
-Cabelos assimétricos
-Rock in Rio
-Relógio Champion (aquele que trocava as pulseiras)
-Tênis iate (tinha um da OP quadriculado que era uma febre)
-Tênis All Star (de todas as cores imagináveis)
-kichute
-Franja repicada
Quem Brilhou?
Boy George
-Madonna
-Menudo
-Cindy Lauper
-Michael Jackson
-Lady Di
-Duran Duran
-U2
-Depeche Mode
-New Order
-Pet Shop Boys
-Information Society
-A-Ha
-The Smiths
-Prince
-B52
-Falco
-The Cult
-Billy Idol
-Noel
-Man at Work
-Fred Mercury (no Queen)
-George Michael (no Wham!)
-The Police
-Barão Vermelho (com Cazuza)
-The Cure
-Simple Minds
-Dire Straits
-Lionel Richie
-Bryan Ferry
-Steve Wonder
-Kim Bassinger
-Daryl Hanna
-Nastassja Kinski
-Isabelle Adjani
-Ultraje a Rigor
-RPM
-Magazine
-Kid Abelha e os Abóboras Selvagens
-Gang 90
-Blitz
-Guilherme Arantes
-Sempre Livre
-Metrô
-Ritchie
-Dalto
-Ronaldo Resedá
-Rádio Táxi
-Roupa Nova
-Viúva Porcina
-Xuxa
-A Turma do Balão Mágico
-He-Man
-Lulu Santos
-Marina
-Zero
-Ira!
-Titãs
-Paralamas do Sucesso
-Lobão
-Doris Giesse
-Luíza Brunet
-Monique Evans
-Cláudia Liz
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